Depois de duas semanas de afastamento forçado (por motivo de saúde, felizmente já superado), retomamos os trabalhos falando do lamentável e chocante episódio ocorrido no final da tarde da sexta-feira passada, dia 25 de fevereiro, na cidade de Porto Alegre, em que um motorista enfurecido acelerou seu carro e atropelou diversos ciclistas que participavam de um movimento pacífico no Bairro Cidade Baixa, em prol do uso de bicicletas como meio de transporte, visando à sustentabilidade do planeta e a melhoria do trânsito, grupo este denominado Massa Crítica.
A intransigência tem sido marca do nosso tempo. Infelizmente, a educação e as boas maneiras, a paciência e a tolerância, práticas tão necessárias para o bom e pleno convívio em sociedade, têm sido riscadas sem dó nem piedade dos dicionários particulares das pessoas. A pressa, a não-aceitação do próximo enquanto ser humano singular, com outros valores, crenças e desejos, faz com que atrocidades sejam cometidas em nome do culto ao egocentrismo exacerbado e à urgência no atendimento dos próprios interesses.
Percebam o absurdo da situação: a marcha de ciclistas buscava conscientizar a população dos riscos do trânsito, e da violência que se mostra cada dia mais presente na disputa manifestamente desigual de espaço entre carros, transeuntes, motos e bicicletas. Um alerta contra a selvageria praticada por alguns motoristas de veículos que acabou motivando uma brutalidade de tamanha proporção, e sem qualquer explicação plausível. O cansaço da sexta-feira, a pressa de se chegar em casa, a irritação com o trabalho ou com a compreensível lentidão das bicicletas, NADA justifica um ato bárbaro como o que se viu.
Não há argumentos que justifiquem o ato de covardia perpetrado por este “cidadão”, que alegou ter se sentido ameaçado pelos ciclistas, agindo assim em legítima defesa. Assim, para se livrar das pessoas que estavam atravancando seu caminho, ao invés de tomar uma rota alternativa, decidiu por retirá-las à força da rua, liberando a passagem. Argumento que seria risível, se não fosse tão doentio. As imagens do ataque de fúria correram o mundo, indignando a todos aqueles que ainda acreditam na possibilidade de coexistência tranqüila entre os seres humanos. É inacreditável ver como uma pessoa pode utilizar-se de seu veículo como arma, atingindo dezenas de ciclistas pelas costas, sem qualquer chance de defesa e busca de proteção.
O Ministério Público, brilhantemente representado pelo Promotor Dr. Eugênio Paes Amorim, tomou a frente da situação e requereu a imediata prisão do motorista. Trata-se de um ser humano (...) que deve ser mantido afastado do convívio social. O Juiz decretou a preventiva e o funcionário público de 47 anos, no momento hospitalizado por suposto "abalo emocional", em breve se encontrará devidamente encarcerado no Presídio Central da capital gaúcha. Certamente será denunciado pelo crime de tentativa de homicídio doloso (por sorte o acidente não deixou vítimas fatais, mas as imagens não deixam dúvidas acerca da intenção de matar os manifestantes), e esperamos que o motorista seja submetido a um julgamento bastante justo, de modo a que lhe seja aplicada uma pena condizente com a monstruosidade de seu ato.
Blog do grupo Massa Crítica:
http://massacriticapoa.wordpress.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe suas impressões aqui: