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quarta-feira, 26 de junho de 2013

De 20 Centavos à Reforma Política

20 centavos. A onda de manifestações que invadiu as ruas do nosso país há alguns dias começou em virtude de uma reivindicação dos usuários de ônibus: a diminuição de 20 centavos no valor da passagem. Ao perceber a força que o movimento estava tomando, uma multidão de brasileiros aderiu à causa e passou a cobrar do Governo uma resposta a outros temas latentes: mais saúde, mais educação, menos corrupção, menos impostos, menos bolsas assistenciais, não à PEC 37 (proposta de emenda constitucional que retira os poderes investigatórios do Ministério Público) e não à PEC 33 (que submete ao Congresso Nacional decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal, que é a última instância do Judiciário brasileiro), gastos exorbitantes com a Copa do Mundo, dentre outros.

Os protestos estão ocorrendo praticamente todos os dias da semana e em todo o território nacional: seja nas capitais, regiões metropolitanas ou pequenas cidades do interior, são 500, 10.000 ou 50.000 pessoas fazendo ecoar a sua voz, bradando o lema "vem pra rua". Embora a grande maioria dos inconformados sejam jovens, há pessoas de todas as idades participando do movimento.

Não há dúvidas de que a esmagadora maioria dos manifestantes está atuando de forma pacífica e organizada, mas o que tem "chamado a atenção" da mídia parcial e atraído todas as lentes é justamente a meia dúzia de arruaceiros e vândalos que estão pegando carona no movimento democrático para fazer o que sabem melhor: praticar crimes (destruição do patrimônio público e privado jogando bombas, arrombando lojas e bancos, ateando fogo em lixeiras). A estas laranjas podres devem ser aplicados todos os rigores da lei, nada menos do que isso.

Dizem que o povo acordou, mas não é verdade. Muitos movimentos e marchas ocorrem no país há tempos, de forma isolada e sem maior projeção em jornais e televisão. A realidade é que o grande público finalmente se uniu, saindo da plateia pra virar protagonista da História do Brasil. Cansado de pagar impostos sem retorno, de não ter saúde e educação de qualidade, ao passo que políticos esbanjam dinheiro público a olhos vistos, em evidente deboche ao povo, sob um falso manto de legalidade (sempre há uma justificativa para aumento de salários e autorização para despesas), o povo trabalhador simplesmente CANSOU.

Discordo de algumas atitudes tomadas pelos manifestantes, como fechar uma rodovia da importância da BR 116 durante horas a fio, exatamente no momento em que milhares de pessoas estão retornando para suas casas depois de um dia inteiro de trabalho. Tolher o direito de ir e vir dos cidadãos por períodos prolongados de tempo nada acrescentará ao movimento. Pelo contrário, atrairá falta de simpatia e até mesmo a ira dos mais exaltados (não sem razão). O protesto deve ser direcionado ao centro do poder, ao local em que estão os governantes, a quem efetivamente se dirige o descontentamento da massa, e a quem deve ser entregue um documento contendo a pauta (ainda que sucinta) de tudo o que está sendo reivindicado, sob pena de esvaziamento do ato.

Após dias e dias de um silêncio sepulcral, nossa Presidenta, acuada pelos acontecimentos e com os holofotes do mundo inteiro voltados para o Brasil, resolveu fazer um pronunciamento em rede nacional que, a meu ver, não trouxe nenhum alento à população (apesar de utilizar muitas frases de efeito). Neste momento, acena com a possibilidade de realização de um plebiscito para tratar da instauração de uma assembleia constituinte... o que poderá ser ainda mais desastroso ao país. Importante esclarecer que a pretendida reforma poderá se dar simplesmente através de leis e emendas à Constituição Federal de 1988. Logo, não há necessidade de se inaugurar um poder constituinte para tratar de um tema específico (reforma política), especialmente diante do fato de que seu caráter originário é ILIMITADO e INCONDICIONAL, o que poderia sair e muito do controle, rompendo com toda a ordem estabelecida.

Otimista por natureza, espero sinceramente que algo de bom aconteça, pois nosso país precisa e merece ser sacudido. O facebook, rede social por vezes tão mal utilizada, teve um papel fundamental para a difusão de ideias e reunião de pessoas nesse momento histórico. Para muito além desse grito de "basta!" à política nacional, desejo que nosso povo crie consciência, de modo a que mostre nas urnas seu real desejo de mudança. Somente com o voto poderemos alterar este cenário desolador. Estejamos atentos e vigilantes. A luta continua. E como diz nosso belo hino riograndense, "povo que não tem virtude, acaba por ser escravo".

PARA O ALTO E AVANTE, POVO BRASILEIRO!

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