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quarta-feira, 2 de junho de 2021

Pandemia de COVID-19, de Estupidez e Desinformação

(Este artigo foi escrito no dia 15/05/2021. Passadas apenas duas semanas, o número de mortos em Terrae Brasilis já ultrapassou a trágica marca de 465 mil).

Brasil, março de 2020. Ocorre o primeiro óbito em razão do coronavírus e surgem no país os primeiros casos de transmissão comunitária da maior pandemia dos últimos 100 anos. Reino Unido, dezembro de 2020. O mundo assiste com emoção, perplexidade e esperança o início da vacinação contra a Covid-19. Brasil, maio de 2021. Conforme informações constantes no site do Ministério da Saúde, até o dia 14, foram aplicadas 51,8 milhões de doses da vacina, sendo que 35,2 milhões de pessoas (16,5% da população, atualmente estimada em 213 milhões de habitantes, conforme dados do IBGE) tiveram aplicada a primeira dose e 16,6 milhões (7,8%) receberam o ciclo de imunização completo. Com a cessação do envio de insumos da China em razão de mais um lamentável incidente diplomático ocorrido na última semana, o Instituto Butantã teve que paralisar a produção do imunizante até que novos lotes de matéria-prima cheguem ao país.

Há poucos dias, ultrapassamos a assombrosa marca de 430 mil mortos no Brasil. Centenas de milhares de vidas ceifadas por uma doença infectocontagiosa combatida com sucesso por vacinas que já estão sendo aplicadas no país desde janeiro deste ano, após terem tido aprovado seu uso emergencial – Coronavac/ SinoVac, Oxford/ AstraZeneca e, mais recentemente, Pfizer/ BioNTech. A moléstia, que passou a ser disseminada mundialmente no final de 2019, foi tratada de modos bastante distintos pelos líderes dos países mais atingidos: enquanto importantes chefes de Estado acreditaram e apoiaram a ciência, não medindo esforços para proteger a vida e a saúde de seu povo, outros, meros ocupantes de cadeiras presidenciais, preferiram lidar com a situação através de manifestações públicas totalmente apartadas da realidade, em que vociferaram declarações inadequadas, negacionistas, polêmicas e não raro extremamente perversas, baseadas em preconceitos e “achismos”. Inclusive, algumas frases ditas pelo Presidente do Brasil no decorrer da pandemia seriam risíveis não fosse a gravidade de sua repercussão e verdadeiro flerte com a tragédia. Com a instauração da CPI da Covid, dentre tantas informações chocantes que vieram a público nos últimos dias, talvez a maior delas diga respeito ao fato de que, procurado em meados de 2020, nosso Governo ignorou solenemente a oferta de milhões de vacinas da farmacêutica Pfizer em mais de uma oportunidade.

A campanha de desinformação promovida pela autoridade máxima brasileira e propagada irrefletidamente por seu séquito de apoiadores fez com que muitas vidas se perdessem por falta de cuidados mínimos com a doença. Os impropérios proferidos por Bolsonaro e seus asseclas desde o início da pandemia – como o apoio irrestrito ao inacreditável “kit covid”, mesmo após ter sido confirmada a ineficácia dos medicamentos cloroquina e ivermectina para o tratamento precoce da doença –, bem como o seu completo desdém e recusa ao uso de máscaras, contumaz incentivo à realização de aglomerações (como a ocorrida na data de hoje na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para celebrar o Dia da Família), o fomento de discussões estéreis entre diversos setores da sociedade civil acerca de temas como distanciamento social, lockdown e abertura do comércio para a manutenção da economia – quando a única alternativa viável para sairmos dessa abismo gigantesco em que o país afundou é a imunização de toda a população –, somada à assustadora desconsideração com a crescente número de mortos, fez com que o Brasil se tornasse um verdadeiro pária no contexto internacional.

É questão urgente e inadiável que a população brasileira desperte para o fato de que a gravíssima crise sanitária e hospitalar da Covid-19 não pode mais ser analisada pura e simplesmente sob o viés político simplista da direita x esquerda, mas sim sob o aspecto humanitário. É preciso perceber a importância da criação e concretização de políticas públicas para a promoção da saúde e prevenção de doenças, bem como do investimento na ciência e tecnologia. O momento exige serenidade e equilíbrio, ao mesmo tempo em que é imprescindível que o povo acorde dessa letargia que o paralisa e retome, com extrema brevidade, o exercício de atos de bondade, empatia, solidariedade e amor ao próximo. Não nos cabe mais aceitar o desprezo brutal demonstrado por alguns governantes no tocante às vidas humanas lamentavelmente perdidas nesta pandemia, e não se mostra mais viável aceitar, sem questionar, as fake news (informações falsas criadas com o propósito de confundir/ induzir a erro) diariamente fabricadas e espalhadas pelas redes sociais como se verdades absolutas fossem. Em tempos de Coronavac, Oxford e Pfizer testadas e aprovadas contra a Covid-19, resta a indagação: quando teremos lançada uma vacina segura e eficaz contra a estupidez e a desinformação?

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